Piada Externa

Hoje de manhã, antes de dormir, eu senti o seu cheiro saindo de dentro da minha boca.

Ou você já está tão impregnada em mim que o seu cheiro está vindo de dentro, ou eu tenho que começar a escovar os dentes melhor...

Não, não!

Eu não ia fazer mais uma piadinha. Realmente o seu cheiro saiu de dentro da minha boca antes que eu descobrisse que essa seria mais uma manhã sem sono. Pareceu que você tava aqui do meu lado, dormindo e roncando baixinho (porque você ronca sim! Só que baixinho...), mas você não tava, era só o cheiro que vai ficar se sentindo sozinho sem a dona dele pra acompanhar.

Mas pelo menos você me deixou ele, o seu cheiro, não sei se por sentir pena de um velho solitário que se não tivesse outro cheiro pra sentir só sentiria o cheiro da solidão e do mijo do gato que não se troca a seis dias, desde a última vez em que a empregada foi fazer faxina, comida, ouvir suas mais novas histórias, fingir que prestou atenção a tudo e ainda por cima dizer que gostou de tudo que não ouviu.

Esse texto não é pra você! Eu nunca perderia meu tempo escrevendo pra você, uma pirralha ingrata que não sabe dar valor a um homem de verdade, uma fedelha ninfomaníaca que com certeza tava dando pro professorzinho da faculdade, que é tão velho quanto eu mas tem uma “bagagem cultural” muito maior. Você não merece. E não pense que eu estou com raiva de você, nãããããão. Nem me lembro mais que você existe e a prova disso é este texto que eu não estou escrevendo pra você! Ele é só pra dizer pro mundo que eu ainda escrevo alguma coisa que preste e não só aquelas piadinhas sem graça.

Viu?

Eu te esqueci!

Não adianta mais fingir que está fugindo de mim, deixar de atender todas as minhas ligações só pra me deixar mal, falar pra todas as amigas que viajou e não sabe quando volta porque está fugindo de um velho lunático, trocar o telefone da casa dos pais pelo telefone de uma farmácia só pra me confundir, mandar o irmão vir aqui falar comigo por estar “preocupada com as minhas atitudes” e não adianta também fingir que não lê as coisas que eu escrevo e te mando todo dia não importando quantas vezes você mude de endereço.

Essa carta por exemplo, pode ter certeza que é a última que você vai ler. Depois de deixá-la com o porteiro do prédio eu vou viajar, vou pra bem longe de você, um lugar onde nada nem ninguém vai me encher o saco, ainda bem que eu sou ateu...

postado por pode rir @ 13:13